Metodologia | Nível contextual

O primeiro problema que enfrentamos é a constatação de que o investigador projecta sempre sobre a imagem uma carga importante de ideias feitas e de convicções particulares, gostos e preferências. Assumamos, pois, este condicionamento inevitável e tratemos de corrigir, na medida do possível, este factor distorcivo da análise. Por isso, o nosso método propõe a distinção de um primeiro nível, que denominámos por nível contextual, que nos força a recolher a informação necessária sobre a(s) técnica(s) utilizadas(s), o autor, o momento histórico a que se reporta a imagem, o movimento artístico ou escola fotográfica a que pertence, assim como a pesquisa de outros estudos críticos sobre a obra em que se integra a fotografia que pretendemos analisar. A realização deste primeiro nível de análise visa de melhorar a competência de leitura.


1.1 Dados gerais

Titulo

O título da fotografia ou “legenda” é fundamental porque costuma fixar ou “ancorar” o sentido da fotografia a partir da perspectiva da entidade do autor empírico. Em certas ocasiões, não acrescenta grande coisa à análise da fotografia. Noutros casos, pelo contrário, a legenda é um elemento fundamental para esclarecer o sentido da imagem, embora parcialmente, já que se trata de uma informação que faz parte do objecto de análise. Frequentemente, as fotografias de Duane Michals, para apresentar um exemplo ilustrativo, estão acompanhadas de legendas que constituem uma profusa reflexão sobre o sentido da imagem a partir da dimensão do autor.

Em qualquer dos casos, devemos estar prevenidos perante reflexões realizadas pelo autor empírico da fotografia, já que quase sempre a análise textual permite chegar muito mais além em profundidade significante que aquilo que o autor possa dizer sobre a sua própria obra. Não devemos esquecer que a produção e a recepção são processos de natureza radicalmente distinta.

Autor, nacionalidade, ano

Estas informações são importantes porque fixam a autoria da imagem, a nacionalidade do fotógrafo e o ano de produção da fotografia o que nos permitirá situá-la geográfica e historicamente. Por vezes, esta informação pode ser suficiente para relacionar a fotografia com o conjunto da obra do autor, se este é conhecido, ou com outras produções plásticas e audiovisuais do período e do país em que tem cabimento contextualizar a imagem que nos dispomos a analisar. O conhecimento prévio do autor e da sua obra é importante para possibilitar o reconhecimento de traços de estilo ou “estilemas” característicos.

Apesar deste facto, é muito frequente não dispor deste tipo de informações. Estamos rodeados por milhares de imagens sobre as quais ignoramos a autoria ou a época em que foram realizadas, o que não deve ser um obstáculo para a sua análise.

Género

Outro aspecto importante é a classificação genérica da fotografia, um aspecto muitas vezes difícil porque uma mesma fotografia pode apresentar vários atributos genéricos ao mesmo tempo. Como vimos, o conceito de género não estará isento de polémica, ainda que a utilização deste tipo de categorias seja muito habitual na linguagem quotidiana do crítico e sirva de orientação ao espectador que não renuncia ao uso destas denominações: retrato, nu, fotografia de imprensa, fotografia social, fotografia de guerra, fotoreportagem, fotografia de paisagem, natureza morta, fotografia de arquitectura, fotografia artística, fotografia de moda, fotografia industrial, fotografia publicitária, etc. Muitas fotografias participam simultaneamente de várias categorias genéricas, sobretudo quando algumas (como a fotografia “artística”, “social” ou “publicitária”) são extremamente ambíguas: por isso, prevemos a distinção de 3 categorias de forma a poder colocar uma mesma imagem em várias secções genéricas simultaneamente, quando tal for o caso.

Origem da imagen

También es conveniente explicitar la procedencia de la imagen, de un libro, catálogo o documento electrónico de donde la hemos obtenido. No es lo mismo valorar una fotografía reproducida en un catálogo, cuya calidad puede ser mejor o peor que el original fotográfico, con sus dimensiones y cualidades plenas.

Movimento

Nalguns casos, é possível inclusivamente situar o autor da fotografia numa determinada corrente ou movimento artístico, escola fotográfica, etc., cujo conhecimento pode ser de grande utilidade para a análise textual da fotografia. Por vezes, a corrente, movimento ou escola artística apresenta um programa estético cujo domínio será muito útil.


1.2 Parametros tecnicos

P/B, Colour

A fotografia a analisar pode ser a preto e branco ou a cores ou ainda ter sido colorida a posteriori. No preto e branco, podem empregar-se técnicas de virado da imagem, realizadas de forma química ou digital. Por vezes, de acordo com o tipo de película ou de revelador, o preto e branco pode apresentar uma dominante fria (azulada) ou quente (amarelada). No caso da fotografia a cores, as qualidades de cor (tipo de dominante, saturação, etc.) podem variar segundo a película ou a técnica de revelação. Noutros casos, podemos encontrar-nos perante uma fotografia que pode ser simultaneamente a preto e branco e a cores , se tiver sido colorido algum elemento ou parte da imagem. Em todos os casos, a técnica empregada – fotoquímica ou digital – não altera substancialmente o trabalho analítico da imagem. Tratar-se-ia, portanto, de acrescentar a a informação pertinente quando esta esteja disponível.

Formato

Outro aspecto igualmente importante é o tamanho e a dimensão da cópia positiva ou da imagem que analisamos. Por vezes, esta informação está patente na própria legenda da imagem. É obvio que as condições de recepção de uma fotografia se alteram de forma substancial quando as imagens são de grandes dimensões (como sucede com muitas fotografias de Witkin ou de Chris Killip) ou apresentam dimensões muito reduzidas (como ocorre com as sequências de fotografias de Duane Michals, por exemplo). Este aspecto apresenta importantes consequências na análise, quando se estuda a relação da imagem com o espectador.

Por outro lado, o formato é uma noção técnica que nos permite descrever, de forma objectiva, o tipo de proporção ou “ratio” que apresentam os lados da imagem. Em cinema consideram-se formatos como o 1.33:1 (formato de televisão convencional 4:3), o 1.85:1 (formato de TV panorâmico 16:9), o 2.33:1, etc.. Em fotografia, concebem-se formatos como o universal (negativo de 24×36mm), o formato médio (pode ser quadrado, 6×6 ou ligeiramente rectangular 6×4.5 cm, 6×7 cm) e o grande formato (9×12 cm, 13×18 cm, 20×25 cm). Com os suportes digitais, difundiram-se todo o tipo de formatos de imagem, cuja utilização é muito variada assim como no campo da concepção das páginas Web.

Camara

O tipo de câmara utilizada é outro aspecto igualmente relevante. Na produção de fotografias de paisagem, trabalhar com uma câmara de formato universal (Pete Turner, Ernst Haas) não é o mesmo que utilizar uma câmara de grande formato (Ansel Adams), o que nos possibilita perceber o tipo de relação que se estabelece entre o fotógrafo e objecto fotografado. Da mesma maneira, no âmbito do retrato há consequências notáveis decorrentes da utilização de uma câmara de 35 mm ou de formato universal (Robert Frank, Dorothea Lange, Robert Doisneau) ou de uma câmara técnica de grande formato (Arnold Newman, Nicholas Nixon). Neste último caso, o sujeito fotografado está condicionado, de forma muito notável, pela presença do dispositivo técnico. A temporalidade da fotografia encontra-se substancialmente alterada se se utilizou um ou outro tipo de câmara, já que não é o mesmo a captação do instante fotográfico (que capta um gesto ou uma expressão concreta, tão importante no campo do fotojornalismo) ou a busca de uma atemporalidade do que está retratado (que procura captar as qualidades subjectivas ou “essenciais” do sujeito fotografado).

Suporte

Em certas ocasiões, pode-se dispor de informação sobre o tipo de formato fotográfico empregado como o universal ou de 35 mm, formato médio, grande formato, fotografia digital – este aspecto por vezes pode apresentar muitas matizes -, inclusivamente informação sobre a marca e tipo de película utilizada, o formato de compressão empregado, etc.. Estas informações possibilitam-nos compreender como se conseguiu obter determinados efeitos visuais e, sobretudo, as condições de produção da fotografia.

Objetivas

Esta informação quando está disponível, permite-nos conhecer se foi utilizada uma teleobjectiva, uma grande angular, uma objectiva normal, uma objectiva olho de peixe, etc. A selecção da objectiva produz importantes consequências na construção do ponto de vista físico da fotografia. Apesar desta informação não se encontrar frequentemente disponível, não é difícil deduzir o tipo de óptica empregada. A eleição da objectiva fotográfica determina o modo como o sujeito ou o objecto fotografado foi retratado e, por isso mesmo, fala-nos do tipo de relação que se estabeleceu entre o fotógrafo e o sujeito ou objecto fotografado.

Outras informaçãos

Nesta secção, podemos incluir alguns dados disponíveis (quando tal seja possível) como a iluminação, a técnica de revelação ou de pós-produção. Não significa o mesmo empregar iluminação natural ou artificial, de flash ou contínua já que estas opções produzem importantes consequências na produção fotográfica. Por vezes, podemos encontrar virados, solarizações, posterizações, imagens negativas, utilização de filtros fotográficos (ópticos ou digitais). Em todo o caso, reportamo-nos a informações que vêm referidas, de forma explícita, nos próprios catálogos ou nas fontes de onde foi obtida a fotografia que estudamos.


1.3 Factos biograficos e comentários críticos sobre ou autor

Por fim, também é necessário na análise da imagem fotográfica dispor de informação sobre a biografia do fotógrafo e, inclusivamente, de comentários críticos realizados por especialistas sobre a obra fotográfica que estudamos. Deste modo, incorporamos na análise a informação sobre as condições de produção e de exibição da fotografia que podem ajudar-nos a compreender melhor a imagem que estudamos. Apesar disso, como temos assinalado, estas informações têm um carácter meramente orientativo, já que na análise da imagem é conveniente distinguir com claridade entre o autor “empírico” e a estância “enunciativa” da imagem. O autor empírico é uma entidade alheia à materialidade do texto audiovisual analisado, cuja intencionalidade escapa ao nosso saber, enquanto a enunciação refere-se aos indícios textuais que se podem encontrar na própria imagem. Neste sentido, devemos “estar alerta” ante a falácia da noção tradicional de “autor” como absoluto depositário do sentido dos seus textos